Bem, dez meses passados na China, na gigantesca Pequim, onde tudo tem sempre um significado maior, cá estou a tentar alimentar um blog que é visitado por vós sempre à espera de novidades. Claro que a esta altura já ninguém espera novidades latentes nas saídas nocturnas ou nos passeios turísticos a que vos habituei ao longo desta jornada, porque para mim, assim como vós, que me acompanham em letras, há coisas que passaram a ser naturais, frequentes e deixaram de ser estranhas.
É interessante e curioso como a leitura pode alimentar mentes humanas e fazê-las viajar no mais recôndito dos mundos, acho que foi por isso que sempre gostei muito de ler, porque me fazia viajar e imaginar coisas que não vi nem senti. As letras e as palavras têm esse dom, e potenciam-se a elas mesmas quando conjugadas, dando azo à nossa própria imaginação que não pode nem deve prender-se ao que de imediato se nos aparece pela frente.
As aventuras são isso mesmo, razão pela qual devemos sempre estar à espera de mutações de estados de espírito...e aqui estou eu, num país que não é o meu mas que com o passar dos dias, dos meses, comecei a sentir como se fosse, porque conseguimos criar teias de interesses e de relações que nos cercam como em nossa casa. Porque quando saímos encontramos conhecidos, encontramos pessoas que connosco se cruzam no supermercado, no café, na discoteca, que estão em missões distintas mas que vivem Pequim da mesma forma, intensa, quente e voraz.
E é aqui que reside a vontade de por cá ficar mais, para aprender, para conviver, no fundo para viver, isto que são mutações diárias ainda que cheias de constrangimentos e mitos que descobrimos a pouco e pouco. Mas quando as rotinas se instalam na nossa vida, começamos por perceber que a nossa casa é sempre onde nos sentimos bem, onde conseguimos enxergar passos em frente como quando da primeira vez em que pisámos o terreno de um mundo diferente.
É isto que se sente em Pequim e por Pequim, uma familiaridade que desde muito cedo comecei a descobrir e que antecipadamente me faz pensar que saudades que vou ter deste lugar, destas pessoas, da fragilidade de cada momento e de cada sensação, e penso, que quando muitas vezes estendemos a mão ao desconhecido com medo de avançar, podemos estar a estender a mão para um mundo que inexplicavelmente podemos e queremos tornar nosso.
E é este o rescaldo que posso fazer por enquanto, a um mês de voltar a um mundo que sempre conheci. Não posso nem me devo demorar mais em contemplações esquizofrénicas de saudosismos, porque os lugares estarão sempre lá, onde estão e devem estar, depois as pessoas que passam por eles é que têm que decidir se querem ou não embrenhar-se um pouco mais.
Sem esquadro e régua, porque a vida não pode nunca ser desenhada desta forma!