Estou na China há 9 meses e 4 dias.
É verdade que o tempo passou muito depressa, é verdade que o Inverno voltou e que me recordo ainda com bastantes evidências do que senti a primeira vez que pisei esta terra e senti o frio ferir-me os olhos, e me lembro com exactidão da vontade que tinha de tudo conhecer e saber e perceber e entranhar.
Não foi fácil, mas como sabem eu não penso muito sobre as coisas, (deste género, claro) por isso, não cheguei a ter tempo nem paciência para pensar no que realmente me estava a acontecer, na realidade nem parei para me questionar. Talvez tenham ajudado todas as expectativas que se desenharam em torno desta minha aventura. Dos que ficaram, dos que disseram que viriam visitar-me e não vieram, do que cá estiveram e conheceram o outro lado do mundo pela primeira vez e perceberam e partilharam que tudo é gerido da mesma forma como em Portugal. Os espaços são diferentes, eu continuo a mesma, como sempre. Com a alma mais cheia, mais cheia de tudo como não poderia deixar de acontecer, porque ninguém pode nunca ficar indiferente a uma vivência destas.
Projectei esta experiência durante algum tempo, e praticamente estava na fase em que apenas concorria por descargo de consciência, como faço com tudo o que me aparece pela frente e para o que sei, não ter grandes hipóteses. Afinal, desta vez as coisas correram bem, bolas, que não podem sempre tudo correr mal. Não são saudosismos antecipados, apenas constatações presentes sobre alterações de curso de vida. Espero que daqui a uns tempos não tenha a sensação de que isto tudo se passou há mil anos e que apenas se guarda uma breve lembrança de que um dia estive na China. Honestamente acho que isso é impossível, por tudo o que este país representa e por tudo o que se vive numa cultura como esta.