Esta, é de todas as temáticas relacionadas com a China, a que mais estranha, ou pelo menos a que mais recente possa parecer. Ainda antes de pensar que viria para a China, saiu um mega artigo no Courrier Internacional sobre este assunto, que retratava especificamente o caso de Angola e do investimento que a China se encontrava a fazer neste território. Desde então, cada vez mais se ouve falar do tema sobretudo porque a China se tem virado para os países africanos, não só como emissor de valores elevados de investimento como também porque este designado por "súbito interesse" tem despertado a desconfiança por parte de alguns sectores da política internacional. A mim despertou-me o interesse na altura em que li o dito artigo, primeiro porque estava a estudar a China, por razões que se conhecem, e depois porque me parecia interessante, que um pais dito do terceiro mundo estivesse com avultados investimentos em outros que conheciam agora também, algum desenvolvimento económico. Poderá tratar-se um jogo de Win-Win , em que os benefícios vão para ambos os lados?
Pois, bem, fui convidada a estar presente num fórum de discussão sobre este mesmo tema. Naturalmente que me despertou toda a curiosidade: ver abordado este assunto no país em questão, não poderia calhar melhor. Fui. Estava imensa gente, a grande maioria, cerca de 90% dos presentes ex-patriados que trabalham em Pequim nesta ou naquela empresa, Câmaras de Comércio entre outros. Além de uma oportunidade para networking , foi uma excelente oportunidade para ouvir os interessados defenderem as suas posições.
Foram apresentadas três visões deste interesse da China por África: a versão chinesa, africana e a dita europeia. A China alega que o interesse por África decorre do seu crescimento económico e da sua aposta em mercados emergentes. Defende-se das acusações de neocolonialismo respondendo que as suas intenções de ajuda a África e o seu interesse nada tem que ver com o que a Europa insinua. A posição de África é receptiva ao interesse chinês, que diz já ter alguma história, sobretudo pelas possibilidades que são colocadas ao dispor de países tais como a Somália.
Para a Europa, esta é uma relação nova, que não tem bases históricas e que é apenas sinónimo de interesse económico, não de ajudar, sobretudo porque a China não tem participado nas contribuições financeiras dadas a África. Na realidade isto pode significar um já antigo conflito entre Europa e Ásia, porque para a Europa, África sempre representou o continente que apenas serviu para colonizar e explorar ou ajudar, nunca para investir sem intenções terceiras....e a Ásia, estará supostamente a ocupar o seu lugar.
Para não cometer errados juízos de valor, para mim ainda é prematuro constituir alguma ideia sólida sobre esta relação, o que sei, é que na China cada vez mais pessoas aprendem línguas estrangeiras, nomeadamente o Português sobretudo por causa do interesse económico do país nos países de expressão portuguesa. O futuro destas relações não sei qual será, apenas podemos de facto concluir que, com o poderio económico que a China apresenta e com os níveis de crescimento e da também crescente necessidade de fazer face às vicissitudes de ter uma população tão numerosa, investimentos em países cujos recursos são abundantes representam uma aposta ganha à partida, e também lucrativa. Se disso conseguem ou querem fazer uma política de acção Win-Win cá estaremos para ver, mas seria uma das hipóteses para a China consolidar a sua posição nas Relações Internacionais enquanto estado participativo e doador na ajuda a ter um mundo mais igual.