no Extremo Oriente ...à descoberta de um novo mundo
Quarta-feira, 28 de Fevereiro de 2007
Há dias assim
Estes dias a seguir à maravilhosa viagem a Xi'an têm sido mais do que calmos. Primeiro porque o tempo tem estado muito mau, desde 2ª feira que não se vê o céu o que faz com que nos sintamos um pouco deprimidos, ainda por cima porque esta cidade é muito cinzanta, e depois porque as novidades mais importantes normalmente acontecem ao fim de semana.
Calmamente passeando nas ruas de uma Pequim que cada vez me parece mais familiar, dou por mim a pensar que já me sinto mais ou menos em casa, numa terra longe daquela a que sempre estive habituada.
Os pormenores que no princípio eram um significativo choque cultural, actualmente, não passam mesmo disso, de pormenores nos quais reparo mas que aprendi a minimizar. Hoje o sol brilhou um pouco durante a tarde, espreitou por entre este smog que consome Pequim diariamente. Quando saí do ICEP ainda era de dia, e foi uma óptima sensação, foi o sinal de que os dias começam a estar maiores e que a Primavera, que para os chineses começou com a passagem do ano, já aí está.
Temos andando em conversações para decidir qual vai ser a próxima viagem da Banpo Village (um destes dias eu conto o que é a Banpo Village ). Tudo aqui fica longe, e qualquer lugar para visitar é pelo menos a 6 horas de comboio. Desta vez queremos experimentar o comboio, pela viagem, pela experiência, mas também para poupar alguns Yuans .
Pronto, e por aqui me fico...
sinto-me: Comme si, comme ça
Terça-feira, 27 de Fevereiro de 2007
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A Liberdade de Escolha
Realmente, se um dia de facto se descobrisse uma fórmula para todos os nossos desejos e caprichos - isto é, uma explicação do que é que eles dependem, por que leis se regem, como se desenvolvem, a que é que eles ambicionam num caso e noutro e por aí fora, isto é uma fórmula matemática exacta - então, muito provavelmente, o homem deixaria imediatamente de sentir desejo. Pois quem aceitaria escolher por regras? Além disso, o ser humano seria imediatamente transformado numa peça de um orgão ou algo do género; o que é um homem sem desejos, sem liberdade de desejo e de escolha, senão uma peça num orgão?
Fiodor Dostoievski, in "Cadernos do Subterrâneo"
Quando o sol se põe em Pequim
Não falei do Palácio de Verão...e da maravilhosa sensação que nos transmite. O Palácio de Verão fica num Parque imenso, repleto de árvores milenares e rio gelado, de construções carregadas de história e simbolismo, anexas ao veraddeiro Palácio, que é enorme e fantástico. Não vos consigo transmitir a calma e paz e o arrepio que nos faz sentir as imagens ao por do sol, e de como é linda a natureza. Ouvem-se os cantos das aves por todo o parque, ouvem-se as vozes das pessoas que cantam em murmúrio, ouvem-se passos... de quem visita, de quem fala, de quem vive aquela cena tirada de um épico que poderia ser de Luís de Camões.
Acho que as fotografias podem documentar o que escrevo. Pequim não é por natureza uma cidade muito bonita, mas o Homem construiu verdadeiras obras de arte, e quem foi outrora imperador soube também aproveitar na perfeição, ainda que por vezes de forma delirante, esta terra para a pincelar com cores fortes e apaixonantes.
Segunda-feira, 26 de Fevereiro de 2007
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A Beleza da Tragédia
É frequente desencadearem-se as verdadeiras tragédias da vida de uma maneira tão pouco artística que nos magoam com a sua crua violência, a sua tremenda incoerência, carecendo absolutamente de sentido, sem o mínimo estilo. Afectam-nos do mesmo modo que a vulgaridade. Causam-nos uma impressão de pura força bruta contra a qual nos revoltamos. Por vezes, porém, cruzamo-nos nas nossas vidas com uma tragédia repassada de elementos de beleza artística. Se esses elementos estéticos são autênticos, todo o episódio apela à nossa apreciação do efeito dramático. De repente deixamos de ser actores e passamos a espectadores da peça. Ou antes, somos ambas as coisas. Observamo-nos, e todo o encanto do espectáculo nos arrebata.
Oscar Wilde, in "O Retrato de Dorian Gray"
sinto-me: Introspectiva
Domingo, 25 de Fevereiro de 2007
Mini Férias Estivais
A partida para Xi'an fez-se de manhã cedo com o intuito de aproveitar o máximo possível. De mochila às costas com o mínimo possível de tralha, apanhámos o avião da companhia que naquele dia viajava mais barato para o destino escolhido à aventura. Das nuvens vêem-se montanhas e uma aridez que teima em nos atrair, com oásis de pequenas localidades mistério que provavelmente nunca chegaremos a conhecer.
Na aparente normalidade de uma viagem planeada com 2 semanas de antecedência, tudo surge quase que por impulso, em pormenores de modernidade que se misturam com os de uma antiguidade ainda recente.
Balões vermelhos rasgados a dourado, símbolos imperceptíveis , bordados a cores fortes e quase artísticos, propícios para um ambiente pobre patente nas ruas, nos rostos, nas roupas, nos usos. Arquitecturas diferentes mas nobres. Pratica-se Tai-Shi nas ruas, faz-se ginástica em aparelhos comunitários no jardim, num comunismo liderado em que todos devem ter o que quase todos têm. Aparentemente democrático, sem a liberdade de escolha da verdade, contam-se os tostões para sobreviver. Jardins verde escuro, cobertos de poeira quase canónica, em que seres vivos lutam pela vida numa densidade climatérica árida e áspera, natural da estação. Largas avenidas de confusões efémeras entrecortam-se, em que se escutam gritos agressivos mas que são apenas a expressão da veemência com que se fala.
À descoberta de rostos aparentemente sem sentimentos, sem expressão de amor. Porém o amor vê-se em gestos, disfarçados, tímidos mas tão carinhosos como as nossa próprias expressões de afectividade.
A cidade é mais quente que Pequim, e também as pessoas são mais afectuosas e simpáticas. É uma cidade turística q.b., porém muito tradicional na sua harmonia entre o estilo chinês e toda a influência muçulmana. Aqui sim, conseguimos ter a real noção de toa a articulação entre culturas que em Pequim não existe.
Visitámos fábricas de seda e sentimo-nos tentados a comprar doces lembranças daquele tecido magnífico que nos faz verdadeiramente sonhar. Resistimos à tentação e continuámos em excursão de grupo com a nossa guia Emily , que nos explicava radiosa que era o primeiro grupo de portugueses que conhecia por aquelas paragens e que nos transmitia no seu melhor inglês as explicações sobre esta terra que é no fundo a história da China.
Nos 3 pavilhões de Guerreiros de Terracota, pudemos realmente ver que a história consegue perdurar séculos e mais séculos, instintivamente com o intuito de gerações posteriores apreciarem obras de um passado longínquo. No meio de tanta confusão de gente que se acotovela para tirar fotografias naquele que mais parece um lugar de romaria, sentes que a grandeza do Homem vai muito para além do que é presente e visível no hoje que conhecemos.
A noite fez-se louca e quente, com melodias e danças conhecidas. Jantar na rua entre todos aqueles chineses, ecoando "gritos de guerra" de tudo o que nos lembrávamos de músicas portuguesas, fizemos as delicias dos transeuntes chineses que nos tiravam fotografias e nos acenavam com um ar sorridente. O convívio alimenta a alma e muito!
Xi'an foi de certeza o primeiro de muitos destinos que queremos conhecer.
Mais fotos no SAPO.
sinto-me: Contente
Domingo, 18 de Fevereiro de 2007
Cidade Proibida - parte II
Para ficarem a saber que este fim de semana fui novamente visitar a Cidade Proibida, com mais tempo e com mais calor. Dps desenvolvo este assunto um pouco mais, especialmente porque há mais fotos para verem.
Durante a manhã fomos visitar a rua das lojas de velharias, que é fabulosa.
Também vimos os fogos de artifício a partir do nosso apartamento.
Festejos de fim de ano numa manhã domingueira muito boa e uma tarde ainda melhor na visita ao Palácio de Verão. Magnífico.
Amanhã, vou para Xi'an. Mais novidades, só na 6ª feira. Prometo que conto depois com mais pormenor o fim de semana e claro a viagem maravilhosa no caminho dos guerreiros de terracota.
Sexta-feira, 16 de Fevereiro de 2007
Revivalismo Comunista
Depois de feita a promessa, aqui estou eu para contar o meu encontro com Mao Tsé Tung , nos arredores de Pequim, num jantar sui generis. Partida de casa pelas 17h00, com destino ao desconhecido. Supostamente iríamos para um restaurante dito Temático, em que as pessoas se vestiam como na altura da Revolução Cultural e em que a comida era mais ou menos dessa época. Era domingo, e depois de uma noitada no Coco Banana, não era mau termos um programa light .
A van que nos transportou foi conduzida por um chinês com carta há 6 meses, mas que comparando com a condução que por aqui se pratica, não estava nada mal. Engalfinhados dentro de uma carrinha que dá para 8 pessoas (éramos 11), lá fomos entusiasmados e com expectativas de mais uma aventura em terras orientais.
O restaurante era enorme, género armazém transformado, com um parque de estacionamento de terra batida, que estava apinhado de carros. Entrámos e deparámo-nos com cenário fantástico. Uma gigante estátua de bronze apelativa à Rev. Cultural e com decorações igualmente alusivas à época. Mas estávamos ainda na antecâmara. Qdo passámos a porta, deparamo-nos com uma sala enorme (o resto do dito armazém), com mesas redondas familiares de toalhas vermelhas e com tudo o que possam imaginar relacionado com a Revolução Cutural. Os empregados impecavelmente fardados (elas e eles), num ambiente que se vivia Maozénico " por todos os lados. placards grandes com impressões desse tempo, e tudo com ar tão rústico e homogéneo, que por momentos parecíamos personagens de um filme. Fotografias de Mao por toda a parte. Aquele lugar parecia um "campo de Revolução".
Sentámo-nos na mesa que nos indicaram, depois de todas as famílias estarem a olhar para nós e provavelmente a perguntar-se que fazíamos ali, nós ocidentais. O nosso amigo chinês tratou de encomendar as iguarias. O jantar foi bom e agradável. O ambiente era no mínimo diferente! Não vos consigo descrever melhor porque acho que tem mesmo que ser visto.
O espectáculo começou...Dança e Canto chinês, de um altura conturbada, mas que para aquelas pessoas parecia viver de novo. Cada mesa sorria e cantava e festejava como se tivesse sido a melhor coisa do mundo, como se dessem vivas a um salvador da pátria, que na realidade o não foi. Abanaram-se bandeiras vermelhas. Festejou-se Mao em toda a sua ideologia. E ali estávamos nós, ocidentais portugueses, a participar em algo que não é nosso, com o qual não nos identificamos e a perguntar-nos insistentemente, e sem resposta, porque estão estas pessoas a reviver uma época tão má? Porque dão vivas a este líder? Acho que seria necessário ser-se chinês para perceber, ou então, talvez não, porque quando perguntamos o porquê desta festa souberam explicar, aliás, nem a pessoa a quem perguntei percebia o porquê de tamanha celebração.
sinto-me: A revelar coisas secretas....
Terça-feira, 13 de Fevereiro de 2007
Encontrei-me com Mao
....Vão ter que esperar para saber como e onde! assim que der, volto a esta questão.
Incursões Nocturnas
Finalmente uma noite de discoteca!!! O sítio eleito foi a
Disco Coco-Banana . De notar que servem jarros de bebida, leram bem,
jarros, que inicialmente pensámos serem whisky e que viemos a descobrir serem de Ice-tea ! Pois bem, chineses e chinesas malucos a dançar, alguns com um estilo...como direi, uma forma especial de ser
fashion . Fomos impedidos de fotografar e filmar, mas clandestinamente conseguimos captar algumas imagens, que espero ainda hoje conseguir cá por. Os seguranças eram chineses enormes, muito encorpados, de fato-macaco azul escuro ou preto, género poliícia de intervenção. Detector de metais a funcionar na entrada que aqui não há cá confusões.
http://www.youtube.com/watch?v=RB-kKUnuP1IReferir que de a toda a hora uma senhora apanhava o lixo do chão, não se pagavam as bebidas no bar, tinham que se pagar a um empregado, e que só dps deste nos dar o troco, o rapaz do bar nos dava a bebida.
Muitas cenas de semi-assédio , do género:
Where are you from ?, e alguma repetição musical, contudo, passaram 3 das minhas músicas preferidas dos 80's e que também por isso valeu a pena. A noite foi muito divertida, muito mesmo. Sofás em parte da disco, mesas que além de terem os tais jarros, também vimos pratos enormes de frutas e muitas garrafas de sumo. Acho que eles não são muito chegados ao álcool. O meu Vodka-limão estava tão fraco, tão fraco que parecia limonada.
Mas giro, giro, são as senhoras das massagens. Na casa-de-banho , enquanto lavamos as mãos, temos direito a massagens. Eu não pude confirmar isso na primeira pessoa, mas a Cláudia confirmou e os rapazes também confirmaram.... (Filipa tens mesmo que cá vir)
sinto-me: Party Girl
Fim de Semana em grande :-)
Finalmente um fim de semana sem o compromisso de ter que ir ao Carrefour , e que deu para passear e começar a explorar esta cidade e ver os sítios maravilhosos que tem. Depois de uma sexta feira de trabalho, que terminou com um jantar no melhor restaurante chinês que já estive desde que cheguei a Pequim, tivemos a brilhante ideia de entrar num bar que nos pareceu animado, com ocidentais e que servia Expresso e no qual entretanto descobrimos que eles eram todos muito amigos uns dos outros, if you know what I mean , e que gostavam muito de dançar música dos anos 80 já de uma época quem nem me lembro. Todos nós bebemos o café da praxe, que cá é caro como tudo e de volta a casa, a pé, e a cantar coisas tão lindas como Tom Saywer e afins.
O canto das aves...
O Sábado começou cedo, para variar as horas tardias a que o pessoal está habituado a acordar. Depois de percorrer não sei quantos kms à procura do Sparrows o único café dito português desta terra, de termos pago quase 5 euros por um galão e uns croissants minúsculos, eu, a Cláudia e a Marta fomos até à Zara , só para ver os preços. Assim chegámos, assim nos viemos embora porque cá é tudo muito mais caro do que em Portugal, embora preços acessíveis para a comunidade de expatriados que cá vive.
A tarde foi fantástica. Passeio no Templo do Céu, um parque enorme com templos de arquitectura chinesa que infelizmente não pudemos visitar porque a hora a que chegámos era já tardia. Tirámos imensas fotografias, o António já se tinha junto às raparigas (a desgraçada da Susana teve que ir trabalhar) e ainda houve tempo para dançar e ouvir música tradicional chinesa. Fomos convidados por um dos muitos grupos que cantava a juntar-nos à sua dança. Foi o que se pode chamar uma verdadeira integração na cultura chinesa.
No ar ouviam-se vozes, ouvia-se o despique do canto chinês com vozes fortes que ecoavam num "bosque" frio, de árvores despidas e fustigadas por um Inverno rigoroso, sentia-se no ar a cultura de uma terra que não é a nossa mas estamos a aprender a aceitar como tal. A alegria do canto, de homens e mulheres que partilham os mesmos ideais e que aceitaram que também nós partilhássemos a sua cultura, nós os ocidentais que não temos os olhos rasgados e que não conhecemos nada do que é ser-se chinês.
Não deu para filmar a nossa dança, mas como o António disse, estas coisas não se filmam, vivem-se, e ele tem toda a razão, há coisas que de facto não se conseguem documentar, têm que ser vividas. Esta foi uma delas. Temos que lá voltar, ainda há muito para explorar, ainda há vozes e sons que nos falta ouvir, ainda há frio que temos que sentir, naquele lugar onde a verdadeira China transparece.
O caminho até ao parque fez-se de metro e a pé (andámos imenso), por entre uma multidão de chineses que correm loucos nas ruas, que vivem efusivamente o Ano Novo chinês que se aproxima e que se renderam ao consumismo.
Passámos em mercados de rua, nas casas pobres de quem vive uma realidade à parte da nossa, vimos rostos sujos e sorrisos maltratados por um país pobre que lentamente acorda para um mundo que se quer igual. Sim, porque também aqui as coisas bonitas têm o reverso da medalha, e não há globalização nem crescimento económico que consiga ainda apagar as diferenças que vemos nas ruas e nos sítios que cada dia conhecemos.
sinto-me: Following the Star