E o tempo que passa em redor das nossas cabeças como se fosse um redemoinho turbulento, fugaz e agreste, que nos marca a face às escondidas da luz. Nem em águas lamacentas e profundas encontramos quimeras perdidas, vidas escondidas, para o bem e para o mal. Nem em sonhos cor-de-rosa encontramos sombras de medo e de vida, em que o amor vislumbra os olhos de quem implora a morte ou apenas o desatino infeliz de quem chora para o mundo.
São contos e contas que contamos e dizemos na esperança de que o sol e a lua se encontrem finalmente numa nuvem de espelho, onde a névoa trespassa o inócuo dos sons que inaudíveis escutamos todos os dias da nossa vida.
E há pessoas que passam por nós todos os dias e nos sorriem como se fossemos amigos de longa data, das quais nada sabemos, das quais tudo queremos saber, sobre as quais nunca nada vamos aprender. Porque elas fogem, desaparecem sem rastro deixar, porque na realidade não fazem parte da nossa vida, translúcida aos nossos olhos, mas da qual queremos sempre algo esconder. Não por pudor, apenas porque se tudo revelado, nada sagrado, porque se a transparência dos nossos olhos é mais do que reveladora então os gestos dos nossos lábios têm que necessariamente calar as palavras e os actos, ou a intimidade da qual sempre queremos deixar um pouco, deixa de existir, e tudo deixará também de fazer sentido.