As noites começam a ficar mais quentes. É a Primavera a espreitar Pequim em toda a sua força. Na temperatura, nas flores, no verde que ainda não tinha tido oportunidade de ver nesta cidade linda, louca. feia, tão fugaz ou nem tanto. São contradições que me assolam de cada vez que penso nela, em Pequim, que do nada se tornou tudo, e que de repente é casa, é sonho, é realidade.
No mais pequeno dos gestos, julgamos que sempre sabemos o que acontece a seguir. No sorriso amigável de alguém que não nos conhece, julgamos estar um amigo. Na face surpreendida de uma criança, revemos as nossas crianças, as crianças dos nossos amigos, que agora longe, nos trazem as lembranças de quem esteve sempre tão perto.
É esta "mixagem" que cada cada dia nos perturba mais, nos dá sinais que nem sempre sabemos interpretar, que nem sempre queremos interpretar. Às vezes são luzes toscas, às vezes são brilhantes, às vezes iluminam-te, outras apenas te guiam um pouco mais além. E correm os ventos de mudança que encarnas como se a tua pele fosse, para o despertar das consciências que voam entre ti e os os que te rodeiam, sem dó, nem dor, nem ódio, nem contentamento.
E passas o tempo encarnando personagens alocadas a quem és, alocadas às quantas mais vidas que tens, aos momentos que não controlas mas que te controlam a ti e aos sonhos que não tens coragem para realizar. E vives livre e solto no mundo ao teu redor incontrolavelmente feliz ou não, mas com soluços de que quem não volta a trás.